A APF Electronics foi fundada por Phil Friedman e seu irmão mais velho Albert Friedman em janeiro de 1968. Os dois irmãos eram veteranos da indústria de eletrônicos e especialistas em importação de produtos da Ásia. Eles começaram fazendo acordos para trazer as últimas novidades em calculadoras e aparelhos de som transistorizados do Japão e acabaram tornado-se lideres na fabricação e comercialização de calculadoras eletrônicas já em 1972, com cerca de 70% de todas as calculadoras vendidas em lojas como a Sears e a Montgomery Ward. Nesse mesmo ano, a máquina de arcade Pong, da Atari, estava fazendo um grande estardalhaço no iniciante mundo dos videogames, colocando esse novo mercado no radar da APF.
Foi só em 1976, depois da explosão de vendas do Home Pong e com o lançamento do chip AY-3-8500, da General Instruments, que continha 6 variantes de Pong, que a APF resolveu entrar no mercado de videogames. Esse novo chip permitiu que eles rapidamente criassem seus próprios consoles domésticos de Pong sem precisar pesquisar ou construir todo o complexo circuito necessário para que o jogo funcionasse, como fizeram a Magnavox e a Atari, o que era algo demorado e caro. Com o Pong em um chip isso não era mais um problema e a APF lançou seu primeiro clone de Pong ainda em 1976, chamado de “APF TV Fun”. A APF vendeu mais de 400 mil unidades desses aparelhos. Em 1977, a APF lançou mais de seis modelos de Pongs, só que o mercado já estava saturado com uma infinidade de aparelhos do mesmo tipo.
Com o lançamento do Fairchild Channel F a APF vislumbrou uma nova oportunidade no negócio de videogames. Um aparelho em que o jogador podia trocar os jogos sem a necessidade de comprar o aparelho inteiro. Por volta de 1977, uma equipe de engenharia da APF, capitaneada por Kenneth Boilen, um dos engenheiros-chefe, iniciou os trabalhos para construir o primeiro e único videogame baseado em cartuchos da empresa. Para projetar o protótipo do console, Boilen colocou um de seus mais proeminentes engenheiros: Edward Lee Smith ou, simplesmente Ed Smith.
Ed Smith era um brilhante engenheiro afro-americano contratado por Boilen em meados de 1977. Ele sempre foi curioso e desde criança já consertava aparelhos domésticos. Em 1972 ele conseguiu emprego em uma empresa chamada Marbelite, no Brooklyn, em Nova Iorque, que na época era uma das maiores fabricantes de sinais de trânsito dos EUA. Foi na Marbelite que Smith teve seu primeiro contato com microprocessadores. A empresa desejava usar a nova tecnologia para fazer um controle mais eficiente dos sinais de trânsito e pagou um curso para Smith, que era um técnico, aprender sobre projetos de circuitos baseados em microprocessadores.
Nesse curso ele aprendeu a programar o novo microprocessador Fairchild F8 que, anos mais tarde, daria vida ao primeiro console de videogame baseado em cartuchos. Mesmo adorando seu trabalho na Marbelite, Smith desejava ir além e depois de alguns anos inscreveu-se em uma agência de empregos. Em uma entrevista para o jornalista Benj Edwards, Smith conta que foi chamado para a entrevista na APF pouco tempo depois e lá conheceu Boilen. Após uma breve conversa, Boilen o apresentou a outro engenheiro da APF chamado Craig, que colocou Smith em uma mesa e o entregou um esquema de circuito eletrônico dizendo “construa isso” saindo da sala sem deixar qualquer chance para questionamentos. Smith conta que achou a tudo bastante simples e concluiu a tarefa logo após o almoço. Quando Craig voltou, ficou surpreso ao ver a tarefa terminada. Ele relataria aos seus superiores posteriormente: “Esse cara sabe o que está fazendo”. Ele conseguiu o emprego. Nessa época a empresa era comandada por Seymour “Sy” Lipper, no marketing, e por Martin “Marty” Lipper, que foi contratado para abrir o capital da empresa e tornou-se presidente da companhia.
Smith, então, foi convocado para trabalhar no protótipo do novo console que era baseado no processador Motorola 6800. Ele conta que se inspirou em vários computadores e videogames da época para projetar o console da APF, entre eles o Apple I, o TRS-80 e o Atari VCS/2600. Nesse meio tempo o departamento de marketing da APF já havia batizado o novo console de MP1000, onde MP vinha de Micro Processador. O projeto avançou rápido e em 6 meses, com a ajuda da equipe de design e de engenheiros do escritório de Honk Kong, Smith entregou o design eletrônico do protótipo.
O design final do console tinha uma parte superior em plástico preto, botões prateados e uma faixa com acabamento imitando madeira na base. Na parte superior ficavam a entrada de cartuchos e os suportes onde os controles podiam ser encaixados. Estes tinham um joystick com um grande botão de ação e um teclado numérico integrado. O console já vinha com o jogo Rocket Control integrado.

O APF MP1000 foi lançado em outubro de 1978 por US$ 129 e vendeu relativamente bem no início. Os bons contatos da APF com a Sears e a Montgomery Ward garantiram um lugar de destaque para o novo console em suas prateleiras. O problema é que, ao que tudo indica, a essa altura somente a Atari parecia ter percebido que eram bons jogos que faziam um console realmente vender e nesse ponto o MP1000 deixou bastante a desejar. Também havia o fato de que o console parecia defasado em comparação ao console da Atari que tinha gráficos melhores e podia mostrar 128 cores contra 8 do MP1000. Vale ressaltar que a Atari tinha um grupo forte de programadores que destrinchavam todas as possibilidades do hardware do VCS/2600 enquanto a APF contava com somente um programador, algo que fazia toda a diferença em lançar mais e mais jogos no mercado.

A APF não tinha dinheiro para contratar mais desenvolvedores. Licenciar a plataforma para outras empresas desenvolverem jogos nem mesmo passava pela cabeça deles e, verdade seja dita, pela cabeça de nenhuma das empresas que estavam fazendo videogames em 1978. A maioria dos jogos do MP1000 foi programada por um britânico chamado Harry Cox, o que limitou bastante a oferta de jogos.
Outro fator que jogou contra o MP1000 era o tipo de jogos desenvolvidos. Enquanto a Atari começava a trabalhar em jogos com mais ação e conversões de jogos de arcade a APF ia vagarosamente lançando jogos como Backgammon, Baseball, Blackjack, Bowling/Micro Match, Boxing, Casino I: Roulette/Keno/Slots entre outros, o que não ajudou a impulsionar as vendas.
Durante o desenvolvimento do MP1000 a administração da APF descobriu que a Mattel estava desenvolvendo um novo console e que ele teria uma base que seria uma unidade de expansão de memória e processamento, possibilitando a conexão de um teclado e outros periféricos, transformando-o em um computador. Algo que a Bally também anunciou para o seu videogame Professional Arcade. Isso levou a APF a seguir esse caminho, usando o MP1000 como base de processamento e criando um módulo de expansão com um teclado, mais memória e uma unidade de leitura e armazenamento. Essa era a visão comum na época, já que os computadores pessoais vinham ganhando cada vez mais atenção do público norte americano e europeu.
Diferentemente da Bally, a APF lançou seu módulo de expansão em Junho 1979 e o chamou de “The Imagination Machine” usando o MP1000 como unidade de processamento, aumentando em mais 8 KB a memória RAM, totalizando 9 KB. Também acompanhava uma unidade de fita cassete para armazenamento de dados. Tudo isso por mais US$ 599. Como base de comparação um Apple II custava US$ 1195.

Mas o que era para ser um grande divisor de águas na história da APF e do MP1000 não demorou a virar pó. Primeiramente a APF direcionou as vendas do “The Imagination Machine” para as mesmas lojas de varejo que vendiam o MP1000. Só que vender um videogame que você conecta a uma TV, coloca um cartucho, liga e sai jogando é uma coisa. Vender um computador é bem diferente e os vendedores das lojas de varejo simplesmente não tinham o conhecimento e nem o preparo necessário para vender tal equipamento, fazendo o “The Imagination Machine” encalhar nas lojas.
Outro problema era a tal unidade de fita cassete que vinha com o módulo de expansão. Um ano antes a Apple havia introduzido com imenso sucesso uma nova unidade de disco junto com o Apple II, que era muito mais rápida e confiável do que uma unidade de fita cassete. Como o “The Imagination Machine” foi lançado 1 ano depois da unidade de discos da Apple, fez com que o aparelho da APF nascesse com um ar de antiguidade, mas esse ainda é um ponto questionável já que as tais unidades de disco ainda eram caras e muitos outros computadores usavam com sucesso as unidades de fitas K7. Um dos maiores problemas da APF era mesmo seu tamanho e poder financeiro para competir com gigantes como Atari, Mattel e Magnavox.
Em 1980 as vendas do MP1000 e a da “The Imagination Machine” foram muito modestas, mas a APF não estava pronta para desistir do seu filhote e despachou Ed Smith para a feira CES, de janeiro de 1981, para apresentar a “The Imagination Machine II”, que era basicamente a primeira versão só que com o console MP1000 já integrado e uma unidade de fita cassete fazendo parte do conjunto. O preço do novo equipamento também foi anunciado na feira: US$ 399. Isso, mais o anúncio de outros periféricos caros, não entusiasmou o público a comprar um equipamento da APF e as vendas não decolaram. O “The Imagination Machine II” nem mesmo chegou ao mercado e os poucos protótipos produzidos são disputados a tapas pelos colecionadores mais hardcore.
Na outra ponta os bancos, que financiavam a operação da APF, não estavam nem um pouco satisfeitos com a performance de vendas da empresa. Eles achavam que videogames e computadores pessoais eram modas passageiras e brinquedos que logo seriam esquecidos pelas pessoas e pressionaram a APF a focar no negócio de calculadoras. Porém, a APF não cedeu a pressão dos bancos, sabendo que o negócio de calculadoras havia se tornado um mercado de produtos de preços baixos e de margens ainda menores.
Ainda em 1981, os bancos voltaram a pressionar a APF pela última vez. Ou a empresa deixava o mercado de videogames e computadores pessoais ou teria que liquidar a dívida de US$ 7 milhões integralmente. Com o ultimato Sy e Marty Lipper simplesmente entregaram a empresa.
Em 1981, a APF encerrou suas operações sem nunca decretar falência, embora os bancos tenham levado mais alguns anos para liquidá-la totalmente. No fim, o MP1000 terminou sua carreira com uma biblioteca de poucos jogos, cerca de 15, e mais alguns cartuchos relacionados a programação para o “The Imagination Machine”. As baixas vendas desse console o tornam um artigo extremamente raro de ser encontrado e motivo de muita curiosidade.
Resumo
Nome Oficial:
Fabricante:
Data de Lançamento:
Descontinuado:
Regiões de Lançamento:
Jogos Lançados Oficialmente:
Preço no Lançamento:
Preço Atualizado 2025:
Unidades Vendidas Oficialmente:
APF Microcomputer System ou APF MP1000
APF Electronics Inc.
Outubro de 1978
1981
Estados Unidos
15 Jogos
US$ 129,95
US$ 532
Aproximadamente 50 mil
Ficha Técnica
CPU:
Velocidade da CPU:
Memória RAM:
Vídeo:
Resolução de Tela:
Cores:
Áudio:
Motorola 6800 de 8 bits
3,579 MHz
1 KB de RAM, expansível até 17 KB
Motorola MC-6847
256×192 ou 128×192
8 cores na resolução 128×192 ou 4 cores na resolução de 256×192
1 canal e 5 oitavas
Controles:
2 controles com joystick e 1 botão de ação, conectados por cabo e fixos ao console.
Mídia dos Jogos:
Cartucho com ROM de até 14 KB. Fitas Cassete com módulo opcional MP-10
Saída de Vídeo:
Sinal de vídeo RF modulado
