A Bally Manufacturing foi fundada em 1932 e começou fabricando máquinas caça-níquel e pinball. Na década de 1970, com o mercado de jogos começando a tomar outro rumo com o surgimento dos primeiros videogames, a Bally usou sua subsidiária, a Midway Manufacturing, para entrar nesse novo e lucrativo mercado. A Bally havia comprado a Midway em 1958 e esta fabricava arcades eletromecânicos só vindo a lançar seu primeiro videogame nos arcades em 1973, que era um clone do Atari Pong chamado Winner.
Em 1974, Dave Nutting e Jeff Frederiksen, fundaram a Dave Nutting Associates e começaram a prestar alguns serviços para a Bally. Note que Dave Nutting era irmão de William Gilbert Nutting, que fundou a Nutting Associates e na qual se desenvolveu o embrião do que se tornaria a Atari. Em 1975 eles foram os primeiros a integrar um microprocessador em uma máquina de pinball fornecida pela Bally e ainda nesse ano a equipe da Nutting começou a desenvolver um hardware para jogos de videogame para a Midway. Era um hardware potente para a época, baseado em um microprocessador Z80 da Zilog. Com esse hardware a Midway lançou o jogo de arcade Gun Fight em 1975 e que foi o primeiro jogo de arcade a utilizar microprocessador.
Em 1976, o mercado de videogames domésticos começou a tomar um novo rumo com o lançamento do Fairchild Channel F, com microprocessador e a possibilidade de trocar o jogo usando-se o conceito de cartuchos que continham o programa do jogo gravado em uma ROM. Na sequência, a RCA também lançou seu videogame baseado em cartuchos chamado Studio II e a Atari estava trabalhando no seu próprio sistema. Não está claro se a Bally/Midway sabia da movimentação da Atari e seu projeto Stella, já que esta o escondia a sete chaves com medo que a Magnavox os descobrisse e tirasse um naco de seu projeto.
A Nutting e a Midway, então, trabalharam no hardware criado para as máquinas de arcade transformando-o em um console doméstico com uma entrada para cartuchos. A ideia era entrar em dois mercados nascentes: o dos videogames domésticos com cartuchos de jogos e o de microcomputadores. Eles pretendiam lançar dois pacotes: um contendo o console que seria ligado à TV e outro pacote que seria apresentado logo após o lançamento e que conteria expansão de memória, teclado e outros recursos para transformar o console em um computador.
O console foi batizado com o nome de Bally Home Library Computer e foi oficialmente lançado em 1977. A Bally terceirizou a fabricação do aparelho para a E.F. Johnson Co. e criou uma divisão específica de produtos de consumo para supervisionar a operação de entretenimento doméstico.

Inicialmente as vendas do novo videogame seriam feitas por uma empresa sediada em Northbrook, em Illinois, especializada em vendas por correspondência, a JS&A. Uma medida necessária já que nem a Bally e nem a Midway tinham o acesso ou a experiência em vendas para varejistas. O console foi anunciado em setembro de 1977 já aceitando pedidos para entregas a partir da quarta semana da publicação do anúncio. O preço? Salgados US$ 299,95, algo em torno de US$ 1.500 em valores atualizados. Um preço bastante alto para a época, ainda mais se comparado ao seu maior concorrente, o Atari VCS/2600 que custava US$ 199. Só que o preço não foi considerado um empecilho. A JS&A não estava anunciando só um videogame, mas sim todo um sistema computacional em que poder-se-ia jogar ou trabalhar custando muito menos que um computador pessoal da Apple, por exemplo. Também anunciaram que a partir de 1978 estariam a venda uma impressora matricial de alta velocidade (um periférico que nunca foi lançado) e um acessório de expansão que acrescentaria um deck duplo para fita magnética, teclado e mais 16 KB de memória RAM ao conjunto. Essa expansão, que realmente transformaria o Bally em um computador foi prometida para março de 1978 por mais US$ 300. Não satisfeita, a JS&A também prometeu um MODEM de US$ 100 que seria entregue gratuitamente para quem comprasse o sistema ainda em 1977. Com exceção do console, nenhum desses acessórios chegou a ser lançado e causaram um dano irreversível à imagem do novo videogame. O anúncio ainda prometia mais. Comprando pela JS&A, dois controles extras seriam enviados junto com o console, uma das poucas promessas cumpridas.

O mais incrível é que vendeu muito. Segundo Robert Fabris, que foi editor boletim informativo “Arcadian”, foram oito mil pedidos iniciais! Mas a vida do Bally Home Library Computer não seria assim tão fácil. Eles realmente tinham um produto que o público desejava e por um preço que foi bem aceito pelos consumidores, só que não tinham capacidade de execução.
Problemas de produção com falta de peças e outras confusões atrasaram a entrega das primeiras unidades, que só ocorreu a partir de janeiro de 1978. Pior ainda, a JS&A anunciou o produto como Bally Home Library Computer, só que a Bally simplesmente alterou o nome para Bally Professional Arcade já na segunda leva de consoles que começaram a chegar as lojas, principalmente especializadas em computadores e eletrônicos, já em 1978 e deixando os consumidores confusos. Nem é preciso dizer o quanto a JS&A ficou insatisfeita com a traição. Especula-se que os infindáveis atrasos do conjunto de expansão, que era ansiosamente esperado pelos entusiastas, levou a Bally a mudar o nome do aparelho, algo que aconteceria mais algumas vezes durante sua existência.
Só que os problemas estavam apenas começando. Muitas das primeiras unidades entregues começaram a ter problemas de superaquecimento. Essas unidades eram devolvidas a Bally que fazia a troca da placa-mãe e retornava a unidade ao cliente. Em seu artigo, Robert Fabris fala que em uma visita à fábrica onde era feito o videogame, havia uma pilha de placas-mãe com 2,5m de altura. O problema era que o processador e a unidade RF aqueciam muito e o projeto do console não ajudava na saída desse calor, gerando um superaquecimento que queimava vários componentes, inutilizando a placa. A Bally e posteriormente, a Astrovision fizeram ajustes para resolver esse problema, mas colecionadores que tem essa primeira versão do console recomendam veementemente que você nunca o ligue em cima de um tapete ou algo parecido, pois é certo que o problema aparecerá e, atualmente, é bem difícil conseguir a troca da placa-mãe.
Em 1978, a JS&A perdeu a exclusividade de venda do Professional Arcade devido a uma mudança administrativa na Bally, que simplesmente os descartou depois de todo o investimento que fizeram. A Bally começou a disponibilizar o console em uma rede de revendas, onde um terço dos consoles foi para a Montgomery Ward. Isso, o infindável atraso do acessório de expansão, do teclado e todos os outros problemas técnicos do equipamento causaram um enorme descontentamento do pessoal da JS&A que chegou a propor que eles assumiriam a produção dos acessórios, o que foi recusado pela Bally.
Na Winter Consumer Electronics (CES) de janeiro de 1979 a Bally mostrou o aguardado teclado. O sistema completo, console mais teclado, ganhou o pomposo nome de Bally Computer System e seu preço foi estimado em US$ 650 ou menos. A promessa era que os teclados chegariam às lojas entre junho e julho de 1979, o que, novamente, nunca ocorreu. Na realidade, a Bally continuou mostrando o teclado nas feiras seguintes, prometendo o produto para um lançamento próximo, tornando-o um dos mais famosos casos vaporware que existe. Os acessórios nunca foram lançados e alguns entusiastas do sistema, frustrados com os infindáveis atrasos e promessas não cumpridas, começaram a buscar alternativas para criar seus próprios acessórios. No final do ano de 1979, a JS&A, cansada da incapacidade da Bally em cumprir suas promessas, fez uma mega liquidação dos produtos que tinha em estoque. Cartuchos e consoles foram oferecidos pela metade do preço, além de 60 unidades do Bally Professional Arcade com defeito que foram oferecidos por dois centavos de dólar onde o anúncio informava que poderiam ser consertados por apenas US$ 25. Isso causou a ira da Bally que levou a JS&A ao tribunal do estado de Illinois.


Apesar de um bom número inicial de vendas, o videogame da Bally nunca teve um número expressivo em vendas e não só devido aos inúmeros problemas e promessas não cumpridas, mas, também, porque a administração da Bally nunca esteve realmente focada no seu produto, pois tinha sua atenção voltada para um grande investimento em cassinos e equipamentos para estes, o que a fez perder muito dinheiro entre 1978 e 1979, afetando todas as suas outras unidades de negócio e levando à decisão de se desfazer da sua divisão de produtos de consumo. Na CES de janeiro de 1980, em Las Vegas, a Bally recebeu uma carta de intenções para vender a divisão de consumo para uma empresa chamada Fidelity Electronics Ltd.. Isso deixou os desenvolvedores e revendedores do console amedrontados, já que a Fidelity, que fabricava jogos de xadrez eletrônico, só fazia vendas diretas ao consumidor final refutando redes de distribuição e varejistas em geral. Para alívio geral, a venda acabou não se concretizando. Nessa mesma época havia um grupo tentando, sem sucesso, trazer seu próprio design de console para o mercado: uma empresa chamada Astrovision. Um comprador corporativo da rede Montgomery Ward, encarregado do sistema da Bally, colocou os dois grupos em contato, culminando com a venda da divisão de produtos de consumo da Bally para a Astrovision em agosto de 1980 por US$ 2,3 milhões.

Em 1981, a agora chamada Astrovision Inc. relançou o Professional Arcade como Bally Computer System. Como parte do acordo de compra, a Astrovision poderia usar o logotipo da Bally em seu console e nos jogos. Também fazia parte do pacote os direitos de alguns dos jogos mais famosos da Midway, como o Wizard of Wor e Galaxian.
Na CES de inverno ocorrida em janeiro de 1981, o vaporware mais famoso da Bally continuava assombrando o Professional Arcade. A Astrovision anunciou o módulo de expansão de memória e o famigerado teclado, agora chamado de ZGRASS-32. Outros periféricos renasceram das cinzas nas mãos da Astrovision e foram anunciados, entre eles a impressora, uma caneta de luz, um teclado digitalizador e a copiadora de slides de 35 mm. Ao que consta, nenhum desses periféricos chegou às mãos dos consumidores.
A Astrovision também assinou contratos com desenvolvedores para produzir novos jogos para o console, como Galactic Invasion, Space Fortress e Adventure. Uma versão “Plus” do Professional Arcade foi lançada em maio de 1981 e incorporava uma revisão da placa-mãe que aliviava, mas não resolvia totalmente, o incômodo problema de dissipação de calor, sendo acompanhada do cartucho Astrovision BASIC.
A Astrovision tinha previsões de vendas extremamente otimistas, mas os problemas de produção ainda assombravam o console, fazendo com que as estregas do produto continuassem lentas.
No início de 1982, outra mudança de nome e o console passou a chamar-se Astrocade Professional Arcade com o logotipo da Bally sendo retirado. Nenhum dos periféricos prometidos ainda havia sido lançado e os altos custos de produção do Astrocade comiam todo o lucro da Astrovision, fazendo-a vender 13% da empresa para a Quaker Oats, aquela da aveia, em maio de 1982 por US$ 3 milhões. A Astrovision também fechou um acordo com a empresa de semicondutores Nitron, de Cupertino, Califórnia, e transferiu a produção do Astrocade para eles.
Em dezembro de 1982, com perdas de mais de US$ 1 milhão e devendo mais US$ 2 milhões para a Nitron a Astrovision entrou no capítulo 11 da lei de falências dos EUA. Assim, no final de 1982 e início de 1983 a Astrovision passa o controle acionário para seu maior credor, a Nitron, que muda o nome da empresa para Astrocade Inc..
Essa foi a última fase do Professional Arcade. Nenhum dos periféricos cansativamente prometidos foram lançados e somente 45 jogos foram oficialmente lançados ao longo de sua vida, apesar de uma comunidade de programadores ter criado diversos títulos usando o cartucho da linguagem BASIC que havia sido disponibilizado. Apesar de muito mais poderoso, o Astrocade jamais chegou perto de incomodar o seu concorrente, o Atari 2600, que em 1983 era o console dominante no mercado. Na CES de janeiro de 1983, o Astrocade mal foi notado em meio às novidades. Em uma última tentativa de salvar a empresa, um plano de reorganização é apresentado e eles conseguem sair da proteção de falências. Porém, era tarde demais. No final de 1983 o mercado de videogames norte-americano é vaporizado no evento que ficou conhecido como o crash dos videogames e o Astrocade foi tragado junto com maioria dos consoles existentes.
A empresa ainda resistiu, tentando vender unidades do console diretamente aos consumidores interessados, que eram bem poucos, e fechou as portas sem que ninguém notasse em 1985.
O Astrocade foi um dos videogames mais poderosos de sua geração e teve tudo ao seu alcance para ser o melhor e mais aclamado console de sua época, só que sofreu nas mãos de uma empresa pouco focada no desenvolvimento do seu produto, inúmeras falhas de estratégia, diversas mudanças de nome que só serviram para confundir o consumidor, promessas de produtos que nunca foram cumpridas e que acabaram esfriando o ânimo de seu público mais fiel. Realmente uma pena, já que o Astrocade tem em sua biblioteca de jogos diversos sucessos dos arcades, antecipando esse modelo de negócio, que a Bally não soube aproveitar como a Atari e a Colecovision, entrando para a história como um ilustre desconhecido da grande maioria dos amantes de videogames.
Resumo
Nome Oficial:
Bally Home Library Computer (1977)
Bally Professional Arcade (1978)
Bally Computer System (1981) Astrocade Professional Arcade (1982)
Fabricante:
Bally Technologies até 1980
Astrovision inc. até 1982
Astrocade Inc. até 1985
Data de Lançamento:
Descontinuado:
Regiões de Lançamento:
Jogos Lançados Oficialmente:
Preço no Lançamento:
Preço Atualizado 2025:
Unidades Vendidas Oficialmente:
Dezembro de 1977
1985
América do Norte
49 Jogos
US$ 299,95
US$ 1.500
Desconhecido
Ficha Técnica
CPU:
Velocidade da CPU:
Memória RAM:
Vídeo:
Resolução de Tela:
Cores:
Áudio:
Zilog Z80 de 8 bits
1,789 MHz
4 KB, expansível até 64 KB
Não usava nenhum processador ou memória de vídeo
160×102 ou 320×204
8 cores simultâneas (dependendo da resolução) da paleta de 256 cores
3 vozes +ruído e efeitos de vibrato
Controles:
Dois joisticks (podendo chegar até 4 controles) com botão giratório na parte superior e um botão de ação do tipo gatilho, conectados ao console por conectores DB9
Mídia dos Jogos:
Cartucho com ROM de até 8 KB.
Saída de Vídeo:
Sinal de vídeo RF modulado
