Uma das marcas da segunda geração de consoles é que toda e qualquer empresa em funcionamento desejava tirar um naco do mercado de videogames, criando algum jogo ou indo além e criando um novo console com todo um ecossistema em volta dele. O CreateVision surgiu da ideia de uma empresa de Hong Kong, a Video Technology Ltd. ou somente Vtech, fundada em 1976 e que, como muitos outros fabricantes, estava fabricando consoles do jogo Pong. Aos poucos eles foram diversificando para outros jogos eletrônicos com telas de led e educacionais, voltados para crianças, e viram uma oportunidade de entrar no crescente mercado de videogames no início da década de 1980. Eles criaram um novo console totalmente original a partir de um processador fornecido pela empresa Rockwell, o 6502A, que nada mais era do que o processador da 6502 da MOS Technology licenciado para fabricação, só que com o diferencial de que esse processador rodava a 2 MHz, uma velocidade bem alta para a época. O CreateVision também contava com o processador de video da Texas Instruments TMS9918 para sistemas de TV NTSC ou o TMS9929 para sistemas de TV PAL e tinha 16KB de memória de vídeo podendo gerenciar até 32 sprites com uma resolução de 256×192 pixels e 16 cores. Também dispunha de um chip de som SND76489, da Texas Instruments, que fornecia até 3 canais de som mono e mais 1 canal de ruído. Era um hardware impressionante para a época, mas, com sua produção centrada em Hong Kong o seu custo de produção era bem mais baixo, fazendo do seu preço um grande atrativo.

Só que os planos da VTech iam além do lançamento do console. Ela tinha a intenção de lançar todo um conjunto de hardware que pudesse ser comprado separadamente, permitindo formar um computador completo, algo bem em voga no final de década de 1970 e início da década de 1980 e que também não era uma ideia nova. Empresas com a APF, Bally e Mattel fizeram isso com resultados bem variados. A VTech, por outro lado, foi muito bem-sucedida com seu console e conjunto de periféricos. Falando nisso, a VTech lançou diversos dispositivos de expansão para o CreateVision: Unidade de leitura e gravação de fitas cassete, teclado, expansão de memória de 16 KB, interface I/O paralela para conexão de impressora. Algo que muitos concorrentes prometeram e nunca entregaram ou entregaram muito menos do que o prometido.
Uma curiosidade sobre o CreateVision está nos seus controles. Mesmo que o dono do console não adquirisse o periférico de teclado era possível usar os dois controles para essa finalidade. Quando estes estavam encaixados em suas docas, na parte superior do console, eles formavam um teclado. Não era muito ergonômico, mas funcionava bem.

O Createvision foi amplamente vendido em países da Europa como Itália, Alemanha, Suécia, Áustria, Suíça e em outras regiões como Israel, África do Sul, Austrália e Japão com diversos nomes e com relativo sucesso em alguns desses países. Todos os consoles, independente da etiqueta de nome em sua carcaça, eram fabricados pela VTech e distribuídos por marcas regionais. Esse console nunca chegou a ser vendido nos Estados Unidos, o maior e mais concorrido mercado, por não encontrar um distribuidor local. O que provavelmente ocorreu pela imensa quantidade dos mais variados sistemas existentes no mercado norte-americano e, provavelmente, por causa dos jogos. A VTech tinha o hardware, mas o que no fim das contas vende um videogame são seus jogos e, bem…eles não tinham nenhum! A maneira mais rápida e barata de criar os jogos foi copiando os que já existiam na concorrência e mudando, por assim dizer, alguns detalhes. “Donkey Kong” virou “Police Jump”, “Space Invaders” virou “Sonic Invader”, “Defender” virou “Planet Defender” e “Pac-Man” virou “Crazy Pucker”. Alias, esse último era uma cópia tão descarada que a própria Namco entrou na justiça para retirá-las de circulação, o que o torna um jogo muito raro de se encontrar atualmente. Só que o jogo foi relançado com o nome de “Crazy Chicky” em que a bola amarela foi substituída por uma galinha que deveria preencher o labirinto com ovos(pontinhos) e os fantasmas foram substituídos por raposas.



O nome CreateVision foi mantido em quase todos os países em que foi vendido exceto em Israel, Austrália e na Nova Zelândia. Em Israel seu nome foi alterado para “Educat 2002” e nos outros dois países era vendido com o nome de Wizzard e distribuído pela empresa “Dick Smith Electronics” que era uma rede de eletrodomésticos muito popular. Alias, muito do sucesso do CreateVision, digo, do Wizzard na Austrália e na Nova Zelândia é creditado ao excêntrico dono das lojas “Dick Smith Electronics”, o empresário Dick Smith, que não apenas vendia o sistema como produzia novos jogos e softwares utilitários que eram vendidos em fitas cassetes para serem usados junto com um cartucho da linguagem de computador BASIC. Ele também promoveu que programadores Australianos criassem livros sobre a programação do sistema da VTech e os publicava por sua editora “Dick Smith Publishing” vendendo-os em suas lojas. No Japão o sistema não vendeu bem, provavelmente por já existirem diversas plataformas parecidas, por isso essa versão é muito rara e cobiçada por colecionadores.
A lista completa de distribuidores é:
– Austrália & Nova Zelândia: Dick Smith Electronics, Hanimex, Bente International Pty Ltd.
– Áustria: Spiel-Sport Stadlbauer
– Alemanha: Sanyo Video GmbH
– Israel: Educat-Development and Marketing of Learning systems Ltd.
– Itália: Zanussi Elettronica
– Japão: Cheryco
– Suécia: Elof Hansson
– Africa do Sul: Telefunken MicroTek
– Suíça: I. M. Rosengarten
O CreateVision foi lançado em dezembro de 1981 e foi promovido por meio de uma campanha publicitária massiva sendo considerado o mais poderoso sistema de computador para jogos domésticos do mercado. Folhetos promocionais o comparavam com outros computadores domésticos como Comodore VIC-20, o Atari 400 e o Radio Shack TRS-80 e, é claro, o CreatiVision que é considerado o melhor de todos. No final de 1982 a VTech, com o claro objetivo de vender mais consoles, relançou o CreateVision com um novo formato e um novo nome: “Funvision” que também foi vendido como Hanimex “Rameses” na Austrália e Nova Zelândia. O Hardware era o mesmo, mas o logotipo CreateVision foi removido da sequência de inicialização. Só que a VTech fez outras mudanças menos populares como a do layout de conectores dos controles e o formato do slot de entrada de cartuchos.
Vendo as mudanças no mercado em que a preferência dos consumidores começou a mudar para os microcomputadores a VTech lançou o computador pessoal “Laser 2001” no final de 1983. Basicamente ele tinha o mesmo hardware do CreateVision com mais memória. Os volumes de venda, que nunca foram muito altos, mesmo com a presença em tantos países, continuaram em queda e a chegada de novos sistemas de videogames e computadores mais avançados com gráficos mais detalhados e que marcaram o fim do CreateVision e do Laser 2001 que receberam suporte até 1986, quando foram definitivamente descontinuados.

Resumo
Nome Oficial:
CreatiVision
Fabricante:
Video Technology Ltd.
Data de Lançamento:
Dezembro de 1981
Descontinuado:
Regiões de Lançamento:
Jogos Lançados Oficialmente:
Preço no Lançamento:
Preço Atualizado 2025:
Unidades Vendidas Oficialmente:
Dezembro de 1985
Europa, Japão, Ásia, Israel, Austrália e Africa do Sul
18 Jogos
US$ 333
US$ 1120
Desconhecido
Ficha Técnica
CPU:
Velocidade da CPU:
Memória:
Rockwell 6502A de 8 bits (baseado no MOS 6502)
2 MHz
Texas Instruments TMS9918(NTSC) ou TMS9929(PAL)
Vídeo:
General Instruments AY-3-8900-1 chamado de STIC (Standard Television Interface Chip ou Chip de interface de televisão padrão)
Resolução de Tela:
256×192
Cores:
16 cores
Áudio:
Texas Instruments SND76489 com 4 canais
Controles:
2 joysticks com teclado numérico de membrana, com dois botões de disparo, conectados ao console por cabo com conector fixo ao console
Mídia dos Jogos:
Cartucho com ROM de até 18 KB
Fita cassete com unidade externa opcional
Saída de Vídeo:
Sinal de vídeo RF modulado
