12 de dezembro de 2025

Introdução Pré-História dos Videogames

Jogos fazem parte da cultura humana desde tempos imemoriais. Sejam eles infantis ou os mais perigosos, esse tipo de entretenimento acompanha a humanidade desde seus primórdios. Com o nascimento da eletrônica e dos computadores no raiar do século XX era de se esperar que em algum momento esses equipamentos também fossem utilizados para algum tipo de diversão.

O videogame caseiro, como o que está presente nas casas de milhares de pessoas ao redor do planeta, percorreu um longo caminho desde o surgimento dos primeiros — e gigantescos — computadores, somente vindo a existir no início da década de 1970, onde nem mesmo era chamado de videogame; termo que só foi cunhado na metade dessa mesma década. Mas esse pequeno computador, sim esse equipamento que te traz horas de diversão e entretenimento é um computador especializado, só existe graças a incríveis pioneiros que não faziam ideia que pavimentavam o caminho do que viria a ser uma nova indústria que atualmente emprega milhares de pessoas e movimenta quantias de dinheiro maiores que o PIB de muitos países.

Por mais incrível que possa parecer, toda essa tecnologia é relativamente nova. No início, os primeiros computares eram imensos e só começaram a diminuir de tamanho com o advento dos transistores no final da década de 1950. Circuitos integrados, como os microprocessadores entre outros que dominam os atuais equipamentos eletrônicos, só começaram a ser usados em larga escala em meados da década de 1970. Para você ter uma ideia, um celular do começo do século XXI tem tanto poder de processamento que pode emular todo o hardware de um “poderoso” computador PDP-1, criado no final da década de 1950 e do tamanho de uma grande geladeira, usando menos de 5% da sua capacidade de processamento.

Essa primeira era dos jogos eletrônicos que é, na realidade, a pré-história dos videogames, em que esses grandes computadores que ficavam restritos a grandes empresas, universidades e órgãos governamentais, foi o local de surgimento das primeiras iniciativas de criar essa nova forma de entretenimento. Na maioria das vezes, como veremos neste primeiro capítulo, muitos desses jogos foram criados para demonstrar as capacidades de processamento e formas de se fazer a interface entre o computador e o ser humano, afinal, monitores, teclados, mouses e outros tipos de interfaces inexistiam no início da era da computação eletrônica, surgindo e medida que esses equipamentos evoluiram. Monitores CRT monocromáticos — coloridos nem pensar — só se tornaram um mais comuns durante a década de 1960 e, ainda sim, não eram tão necessários no uso diário desses computadores.

Muitas vezes durante esse capítulo você verá referência a este ou aquele programa como sendo o “primeiro” a modelar um jogo ou mecânica em particular, mas isso merece certo cuidado, já que, muitas vezes, refere-se ao primeiro conhecido ou catalogado não sendo, em absoluto, uma declaração de origem, afinal muitos jogos interessantes foram criados nesse início da era dos computadores e ficaram confinados a laboratórios de pesquisa administrados por universidades, grandes corporações, governos nacionais e laboratórios militares onde sequer ficou-se sabendo de sua existência. Nenhum desses primeiros jogos foi criado para ser distribuído em massa ou mesmo para o consumidor final. É difícil determinar qual foi primeiro jogo criado uma vez que a documentação é escassa e, por vezes, um tanto obscura nesse período inicial da história da computação, permeado por duas guerras mundias, a Guerra fria e por muitas iniciativas secretas na área de tecnologia. Como resultado, há um alto grau de probabilidade de que muitos pesquisadores criaram quebra-cabeças lógicos, jogos de tabuleiro, jogos de cartas, simulações militares, etc., que nunca receberam maior exposição e há muito se perderam.

Mas, o que é um videogame? Como podemos defini-lo?

Segundo um dos dicionários mais famosos da língua portuguesa, o Aurélio, videogame é:

“Substantivo masculino.

 Programa interativo com jogos cujas imagens são apresentadas numa tela de computador ou de televisão e acessadas através de um controle remoto ou de um teclado.

 Equipamento eletrônico que, ligado a um computador ou a uma televisão, é feito para jogar, seus jogos são próprios para este tipo de equipamento”.

Já o dicionário Oxford online dá a seguinte definição:

“1. Jogo em que se manipulam eletronicamente imagens numa tela de televisão.

 2. Todo jogo em que se usa um microcomputador equipado de teclado ou console para tomar decisões, reagir a ações, manipular mudanças ou responder a perguntas que apareçam na tela.

 3. Equipamento, independente ou ligado a computador, específico para jogos desse tipo”

São definições modernas que muitas vezes não se encaixam no modo como muitos dos jogos, sobre o qual falarei nesse livro, foram construídos. Se ainda ficarmos restritos a essas definições, até mesmo o Odyssey, lançado pela Magnavox em 1972 e considerado o primeiro console de videogame doméstico, teria dificuldade de ser chamado de videogame, uma vez que não usava o conceito do que convencionamos chamar de “computador” na sua arquitetura de hardware.

Dito isto, vamos desbravar como esses pioneiros e seus gigantes eletrônicos pavimentaram o caminho para que esse aparelho com capacidade de processamento gigantesco, capaz de gerar milhões de cores e nuances, sons impensáveis lá na longínqua primeira metade do século XX e capazes de abrir um portal que nos transporta para outros mundos e eras diferentes, fosse parar dentro de nossas casas.