12 de dezembro de 2025

1939 – Nimatron

Nimatron_Photograph_1940

O início do século XX assistiu ao nascimento da computação digital. Era uma época experimental em que a humanidade ainda não tinha uma ideia formada sobre que tipos de problemas os computadores deveriam, ou mesmo poderiam resolver; ok, ok, os militares tinham, tanto que a maioria desses computadores nasceu em ambiente militar muito antes de chegar às empresas e universidades.

Mas dentro dessa visão experimental a Westinghouse Electric, que já havia construído um robô para a feira mundial de 1939, o Elektro, que respondia a alguns comandos de voz, contava piadas e… fumava — pois é, como eu disse, era tudo muito experimental — criou um computador que jogava NIM contra um oponente humano.

Esse computador, chamado de Nimatron, foi construído pela Westinghouse Electric em 1939 e apresentado pela primeira vez em abril de 1940 na Feira Mundial de Nova Iorque. Ele é o primeiro computador construído com o único intuito de divertir e rodava um único tipo de jogo: o jogo de NIM. O Nimatron foi projetado pelo físico Edward Condon, um dos pioneiros da física quântica, quando ele percebeu que os circuitos usados na calibração de contadores Geiger podiam ser usados para definir os números que indicam o estado do jogo. Nessa época, Condon trabalhava na Westinghouse onde viria a se tornar diretor associado de pesquisa

Edward Uhler Condon, físico e diretor do National Bureau of Standards (NBS) agora NIST de 1945-1951. Fonte: Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia.

Durante o inverno de 1939, Condon e seus assistentes, Gereld L. Tawney e Willard A. Derr, trabalharam para construir o computador que teria a função de animar a exposição da Westinghouse durante a feira Mundial. O Nimatron é um computador digital não programável que utiliza relés eletromecânicos em vez de válvulas de vácuo. Ele pesava mais de uma tonelada e foi construído em um gabinete de cerca de 1,60 m de altura por 1,00 m de largura. Na parte superior, o Nimatron tinha um cubo com luzes que informavam o status do jogo para os espectadores que  acompanhavam a partida.

Condon também colocou um recurso que diminuía a velocidade de processamento do computador. Como os cálculos eram instantâneos, ele achou que isso gerava uma frustração nos jogadores, que demoravam mais para fazer sua jogada. Esse retardo no processamento também passava a sensação para o público de que o computador estava “pensando”. Cerca de 100 mil partidas de Nim foram jogadas no Nimatron, das quais ele ganhou cerca de 90 mil. Dentro do conceito videogame, o Nimatron não se encaixa perfeitamente uma vez que não tem um monitor de vídeo, o que era comum nos primórdios da computação, mas um método visual era suprido pelo sistema de luzes indicativas. Muitos, também, não consideram o Nimatrom como um computador digital já que usava relés. É uma discussão técnica que tende ao infinito e pouco agrega aqui. Deixemos ela para os puristas. O que vale é que o Nimatron foi projetado para divertir e, dentro dos limites tecnológicos de sua época, merece ser mencionado como um dos elementos evolutivos que nos trouxeram até os videogames modernos.

O Nimatron na Feira Mundial de Nova York em 1939.  Imagem cedida pela Westinghouse Electric Corporation.

Mas por que NIM?

Nim é um jogo combinatório muito simples e, como você verá no decorrer dessa história, foi o foco de vários experimentos relacionados a jogos de computador porque permite um número limitado de jogadas que podem ser rapidamente calculados por um equipamento primitivo como o Nimatron. No início da rodada, há um certo número de objetos, as luzes todas acesas no Nimatron, e os jogadores se revezam para remover um certo número desses objetos, de acordo com as regras definidas. Ganha quem conseguir retirar todos os objetos primeiro. Resumindo, Nim era fácil de ser implementado em uma máquina tão complexa. Condon e seus assistentes receberam a patente do Nimatron, ao que Condon disse, posteriormente, considerar a máquina um de seus maiores fracassos já que nem ele nem a Whestinghouse souberam ou enxergaram o potencial que um equipamento desse tipo poderia ter. Não se pode culpá-los por falta de visão, já que tal potencial para jogos só viria a ser percebido comercialmente muitas décadas depois. Após a feira, o Nimatron foi enviado para o Buhl Planetarium and Institute of Popular Science Building em Pittsburgh. Sua última aparição conhecida foi em 1942 em uma convenção da Allied Social Science Associations New York, que foi patrocinado pela American Statistical Association e o Institute of Mathematical Statistics. O computador, provavelmente, foi desmontado após essa apresentação, já que não existe nenhum outro registro posterior.